Blog do vasco

Wednesday, March 08, 2006

Os Portugueses em Nagasaki



Portugal e Espanha foram, nos séculos XV e XVI, os grandes descobridores de “novos mundos”. Em 1498 Vasco da Gama chega à Índia por via marítima, contornando o continente africano. Em 1492, Cristóvão Colombo descobre a ilha de Haiti, na América do Norte. Fernão de Magalhães chega ao Oriente atravessando o oceano Atlântico e o oceano Pacífico depois de ter contornado a América do Sul. Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil em 1500.
Durante o reinado de D. Manuel I, o que se conhecia do extremo oriente eram relatos da viagem de Marco Polo à China, em 1291. Nessas viagens, o explorador ouviu falar de um rico arquipélago a que os chineses chamavam “Ji-pangu” – local onde o Sol nasce – que mais tarde seria designado “Japão”. Nessa época os japoneses viviam isolados, sem contactos com outros países ou continentes para além da China e Coreia. Marco Polo descreveu o Japão como “uma ilha grande, com gente de pele clara, de boas maneiras, formosos, e de uma riqueza incalculável”.
Era por isso natural que aos navegadores portugueses interessasse descobrir o Japão mas foi por acaso que isso aconteceu. Em 1540 os navegadores portugueses tiveram os primeiros contactos com marinheiros japoneses que faziam comércio nas pequenas ilhas chinesas de Liampo. Foi num dos barcos que usavam nessa zona que, num dia de forte tempestade, três portugueses acabaram por chegar à costa Sul do Japão, na ilha de Tanagashima.
Estes foram os primeiros ocidentais que os japoneses viram na sua terra. Segundo escritos locais esse acontecimento deu-se a 23 de Setembro de 1543. Desde essa data algumas trocas comerciais foram-se estabelecendo e no local onde os barcos acostavam foi-se desenvolvendo um centro de comércio e mais tarde uma cidade: a cidade de Nagasaki. Durante muitos anos esta cidade foi a porta de entrada para o Japão, não só para navegadores portugueses mas também, depois, para holandeses, ingleses, coreanos e chineses.

Em 1549 chegou ao Japão um padre Jesuíta chamado Francisco Xavier, com a missão de cristianizar os japoneses, cuja religião era o budismo. Foram os portugueses que levaram para o Japão as primeiras armas de fogo (os mosquetes, espécie de espingarda). Como nessa época o Japão estava em constante guerra entre senhores feudais (“shoguns”), as armas de fogo tiveram muita procura e valiam fortunas em prata e ouro. Foram também os portugueses que levaram para o Japão as primeiras máquinas de impressão e muitos instrumentos musicais até então desconhecidos.Em 1570, Nagasaki era um importante porto de importação e exportação comercial e de actividade missionária cristã, onde se construíram igrejas católicas e um hospital que introduziu a medicina que se praticava na Europa. Apesar dos grandes passos que foram dados para desenvolver as trocas culturais e comerciais entre os dois países, o Japão começou a criar obstáculos à entrada de estrangeiros. Em 1614 foi criada uma lei que proibia o Cristianismo e em 1639 as relações entre o Japão e Portugal foram cortadas.
Já na era moderna, Nagasaki desenvolveu-se como um importante centro industrial, principalmente na construção naval. Por isso, na IIª Guerra Mundial (1939 – 1945), Nagasaki seria sempre um alvo para o ataque dos americanos, pois era lá que os navios de guerra japoneses eram construídos. Em 6 de Agosto de 1945, a primeira bomba atómica foi largada pelos americanos na cidade de Hiroshima, com a sua quase total
destruição. Três dias mais tarde, em 9 de Agosto, uma segunda bomba
iria ser largada sobre a cidade de Kokura, mas como nessa zona o céu estava coberto de nuvens, o avião que transportava a bomba dirigiu-se para Nagasaki. Às 11.02 horas a bomba é largada. Tratava-se de uma bomba um pouco diferente da bomba de Hiroshima, muito mais potente, mas apesar disso o número de mortes foi inferior ao de Hiroshima porque o terreno em Nagasaki era acidentado e os montes e colinas serviram de
protecção a várias zonas da cidade. também a típica disposição portuguesa das casas e ruas, em anfiteatro, aproveitando as condições naturais do terreno a isso ajudou. Mesmo assim morreram de imediato quase 74000 pessoas e mais 75000 terão morrido nos dias seguintes devido ao efeito das radiações.
A cidade foi reconstruída e recuperou a sua importância económica. A indústria naval e automóvel continuam a ser as mais importantes. Também a influência cristã se manteve e muitas igrejas católicas foram reconstruídas.

Mas os vestígios de Portugal em Nagasaki e no Japão são ainda visíveis. As influências culturais dos portugueses foram muitas e importantes e muitas palavras japonesas têm origem portuguesa, como por exemplo “botan” (botão), “kappa” (capa), “koppu” (copo), “orugan” (orgão), “tabako” (tabaco), “bisuketto” (biscoito), “pan” (pão), “yoroppa” (europa), “shabon” (sabão), etc.
Em Nagasaki manteve-se uma pequena comunidade de católicos e foram construidas igrejas católicas ao longo dos séculos. Um bolo chamado “kasutera” típico de Nagasaki mais não é do que o nosso pão-de-ló, cujo fabrico foi ensinado aos locais pelos portugueses. Nas festas populares “O-Kunchio Matsuri” que ocorrem em Nagasaki em Outubro, há um desfile que inclui sempre réplicas de caravelas portuguesas.

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